Da Redação
Fotos: Manuel Kayakis
Cerca de 80 pescadores, trabalhadores rurais e estudantes, conseguiriam cancelar, nesta terça-feira (17) a realização da audiência pública marcada para discutir o Estudo de Impacto Ambiental da implantação de três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na região matogrossense do Pantanal. As obras irão afetar o rio Juba, no município de Barra do Bugres, sudoeste do estado.
Os manifestantes reivindicam ações mais concretas com relação aos impactos socioambientais que serão causados pela construção das barragens. Entre eles, a inundação do Assentamento Antônio Conselheiro, localizado entre Barra do Bugres e Tangará da Serra. A audiência foi remarcada para daqui 35 dias.
Ao todo, são 11 hidrelétricas previstas para o rio Juba – sendo que quatro já estão em operação – e outras 16 no rio Sepotuba, também na região, somando um total de 27 barragens. As obras impactam diretamente o meio ambiente, alterando o pulso de cheias e secas do rios, que perdem sua dinâmica natural e passam a se submeter as operações de abertura e fechamento de comportas das hidrelétricas.
A invasão de PCHs no Pantanal já afetou outras comunidades. No município de Cáceres, na região oeste do Mato Grosso, o fechamento do rio Jauru acabou com a a atividade pesqueira de centenas de ribeirinhos e pescadores tradicionais, a única fonte de sustento desses povos. O rio ficou praticamente inavegável e os peixes não conseguem migrar para a reprodução. Um desastre social e ambiental alarmante.
O Pantanal, maior planície alagável do mundo, está ameaçado por um total de 162 projetos de barragens para geração de energia hidrelétrica, previstas para a Bacia do Alto Paraguai (BAP), sendo que 44 já estão em operação e representam 56% do potencial hidrelétrico de toda a bacia.
Segundo os manifestantes de Barra do Bugres, as obras no rio Juba causarão enormes prejuízos, secando o rio e impedindo que os peixes realizem a piracema, que é o período de reprodução. “O que se questiona é sobre quais são os benefícios que essas hidrelétricas vão trazer para os trabalhadores?”, conta um dos manifestantes.
O Ministério Público Estadual do MT está acompanhando a questão. A expectativa de moradores é de que o órgão possa tomar alguma providência com relação aos impactos sinérgicos da implantação das usinas. Segundo a Rede Pantanal de ONGs e Movimentos Sociais, “o Plano de Bacia do Alto Paraguai está em elaboração, então seria correto esperar a conclusão deste documento para podermos avaliar se a Bacia suporta mais empreendimentos como este”.
| A Vaidapé esteve recentemente na região. Em breve, lançaremos um conteúdo especial sobre as principais ameaças à integridade socioambiental do Grande Pantanal.