Por Iuri Salles
Fotos e video: João Miranda
Um dos maiores nomes do rap nacional, Helião conta detalhes inéditos sobre os bastidores da carreira do RZO (Rapazeada da Zona Oeste), falando sobre a ajuda dos Racionais MC’s na trajetória do grupo, a ida à televisão, a nova geração do rap e muito mais. A entrevista é um episódio especial da série “O que é o rap?” da Vaidapé.
Como um dos grupos mais antigos de rap no Brasil, as referências do Helião são, de fato, a raiz do movimento. “Em 1981, 1982 eu vi a música Melô do Bastião, que era cantada por Pepeu, Mike e DJ Bacana. Foi aí que eu vi o rap nacional pela primeira vez e já me identifiquei. Eu vi uma facilidade de entrar na música pelo rap, porque não precisava de músico, de banda. Era só ir na rua 24 de maio comprar os discos instrumentais”, conta.
O rapper compara a criminalização do funk com o que aconteceu com o samba, há décadas atrás. Para ele, todas as representações culturais oriundas dos guetos sofrem a mesma tentativa de repressão, discriminadas e vistas como uma má influência para a sociedade.
Ainda sobre o início da carreira, Helião relembra a importância de outros grandes nomes do rap para a caminhada do RZO. Os Racionais MCs, por exemplo, já estavam se estabelecendo profissionalmente e ganhando algum dinheiro. Apesar da falta de investimento, mas preocupados em manter a cena forte, o grupo financiou a gravação do primeiro álbum do RZO.
Outro nome central para o reconhecimento do RZO foi o grupo Consciência Humana. Helião conta que alguns contratantes de eventos “batiam sujeira” com eles, dizendo que o grupo não iria tocar no show. “Mas os caras do Consciência Humana falavam que, se o RZO não cantasse, eles também não iam cantar”. Como o grupo era a grande atração da noite, ficou inviável para os contratantes não permitir que o RZO subisse ao palco.
“Você era testado a todo momento. Você era testado pela polícia: ‘Como assim você fazendo show? Como assim você fazendo dinheiro?’ Os cara não concordavam com isso aí. Era um lance de inveja mesmo, os caras não queriam ver o nosso crescimento”, relembra Helião.
Helião conta que muitos amigos que iam juntos ao show eram presos antes do som rolar, o que deixava o clima tenso, dentro e fora do palco. Segundo ele, antigamente havia um clima de “treta” com polícia, mas hoje tudo se resolve melhor na conversa.
Quando o assunto é a nova geração do rap nacional, Helião compara o momento que eles vivem hoje ao que RZO passou.
“Demorou pra gente ser aceito, porque os caras aceitavam o que já tinha. Está acontecendo a mesma coisa com esses moleques, mas eles são trabalhadores, eles estão fechados, tem o time deles. Isso eles vão superar com trabalho. Já está acontecendo.”
ASSISTA A PARTE 2
Com posicionamento firme, Helião não acredita que esteja traindo o movimento ao comparecer em programas de tevê de grandes emissoras. “Playboy não assiste a Rede Globo. O público da Rede Globo é periférico e favelado”, afirma
Assim como Nocivo Shomon já havia afirmado em entrevista à Vaidapé, a resposta de Helião foi direta: “A gente não vai para jogar bolo um na cara do outro. Mas, se for pra cantar ao vivo, a gente vai, porque é isso que a gente faz”, concluiu.
“Acho que o maior guerreiro é o que luta no campo inimigo, não o que faz fortaleza de quebrada e fica esperando vir, tá ligado?”
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Assista também a série de vídeos com curiosidades inéditas, em que a lenda do RZO relembra detalhes do início da carreira de Sabotage, rebate críticas feitas ao Mano Brown e muito mais. É só rodar no player abaixo: