Por Thiago Gabriel
Fotos: Leandro Moraes
Os estudantes secundaristas que ocupam o prédio da Assembleia Legislativa de São Paulo desde terça-feira (3), seguem resistindo às ameaças de reintegração de posse e reafirmam: “Eu só saio daqui com uma CPI!”.
Os alunos estão organizados, e têm aproveitado a ocupação para promover um espaço de luta criativo e plural dentro do Plenário da Assembleia. Enquanto correm para conseguir as 7 assinaturas que precisam para a abertura da CPI da Merenda, os secundaristas têm de “se virar” com o corte das tomadas e dos chuveiros da ALESP. Por conta disso, os banhos tem sido “de caneca e água fria”, e as poucas tomadas restantes, compartilhadas entre todos.
Nesse clima, eles realizaram ontem o primeiro desfile ALESP Fashion Week, exibindo figurinos montados pelos próprios estudantes com os cobertores de cada um, em uma expressão cultural de sua luta. Um dos idealizadores do desfile, Marcelo Richard, secundarista da EE Mário Kozel Filho, explica o que motivou a atividade: “Já que tá todo mundo de cobertor vamos fazer um desfile de cobertor. Para mostrar que, apesar do frio, a gente sempre encara as coisas com alegria. Já que o cobertor é a única coisa que temos, vamos fazer um desfile”.
Marcelo ainda explica outra afirmação importante na realização do desfile: “trazer a pauta LGBT para dentro da ALESP”. Para o secundarista, é preciso quebrar as barreiras que impedem com que questões relacionadas à comunidade LGBT entrem em pauta nas sessões: “É importante porque muitos dos deputados que ocupam as cadeiras na ALESP são pessoas preconceituosas, homofóbicas, racistas, para eles o que importa é Deus. E, se é para falar de religião, vamos falar de todas as religiões. Se vamos falar de hétero vamos falar de gays, lésbicas, pessoas trans”.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE
Na manhã de quinta-feira (5), o presidente da ALESP, Fernando Capez (PSDB) protocolou na Justiça pedido de reintegração de posse do local. Segundo o mandato expedido pelo juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública da Capital, Sergio Serrano Nunes Filho, os alunos tem até 24h após receberem a notificação para deixarem o prédio, sob pena de multa de R$ 30 mil para cada estudante que decidir permanecer ocupado. O prazo se encerra hoje por volta das 17h. A liminar prevê que qualquer ação de reintegração de posse deve ser precedida por uma audiência de conciliação.
Diante da possibilidade de ação policial e o elevado valor da multa cobrada para os ocupantes, a página do Facebook Ocupação ALESP criou uma campanha online para arrecadar dinheiro para o pagamento das multas, caso elas sejam aplicadas. Foi criado também um evento para convocar a população a montar uma vigília em frente a Assembleia para resistir a tentativa de desocupação.
Os estudantes seguem pressionando os deputados da Casa para que assinem o pedido de abertura da CPI da Merenda, que teria como objeto a investigação de propinas recebidas por políticos em contratos superfaturados para a compra de merenda nas escolas públicas. Por enquanto, os alunos já possuem 25 das 32 assinaturas necessárias para a instauração da Comissão.
Sobre o clima dentro da ocupação durante esta sexta-feira, Marcelo conta que, apesar da tensão, outros sentimentos prevalecem entre os alunos: “Estamos unidos e o sentimento é de muito amor e muita amizade, um ajuda o outro . A gente pode passar frio, passar fome, mas com um do lado do outro para dar um abraço, a gente segue em frente.”
Confira o registro do fotógrafo da Vaidapé Leandro Moraes, que está junto aos estudantes ocupados no plenário da ALESP: