Por Gil Reis
Fotos: Luana Schwengber
Antes mesmo do Luz Apache existir, os integrantes já se conheciam e se reconheciam como um grupo. O astral e as ideologias eram parecidas e desde os 16 anos os MC’s João Catan, Caio Paiva e Felipe Augusto [mais conhecido como Bobina] já faziam rimas nas ruas de São Paulo, mesmo sem pensarem que um dia cantariam juntos.
Segundo João Catan, “essa caminhada começa em um passado mais antigo do que a gente possa se lembrar”. Das vivências, nasceu o Real Missão, um grupo de rap formado por João e Caio. Na época, ambos já escreviam e produziam suas próprias batidas.
Fazendo shows junto com os parceiros da Labuta, grupo do qual Bobina fazia parte, os três começaram a dividir o palco e rimar juntos. A experiência que deu origem ao Luz Apache. Hoje, além dos três MC’s, o grupo conta com o produtor audiovisual Pedro Cerqueira e o técnico de som Enrico Altruda.
“Tudo existe por causa dessa música. Ela fez o Luz Apache. Ela sintetizou toda uma vibração do que realmente era nosso sentimento”
João Catan, produtor e vocalista, sobre a música ‘Mais Luz’
Em 2014, quando o trio ainda se reconhecia de forma incipiente e subjetiva, o lançamento da música Mais Luz deu o arremate final para que o projeto se tornasse concreto.
“Tudo existe por causa dessa música. Ela fez o Luz Apache. Ela sintetizou toda uma vibração do que realmente era nosso sentimento” , lembra João. A letra do som, escrita por Bobina, já estava pronta há algum tempo e, segundo o MC, só faltava um beat com mais sonoridade.
“Procurei o João, ele me mostrou o beat e nóis ficou brisando que era isso”, disse Bobina, memorando os primeiros capítulos do Luz Apache. “Até rolou um Whisky no copo esse dia”. Disso, sai o primeiro EP do Luz Apache, o Mais Luz, que alcançou sucesso inesperado, segundo os próprios músicos.
Nos dois anos seguintes, o Luz Apache lançou mais dois álbuns e produziu diversas músicas. Mas os integrantes reconhecem a falta de estrutura que tinham na época e decidiram investir na qualidade de produção, ao invés da quantidade de trabalhos realizados. Tomaram o Luz Apache como prioridade e investiram tudo no projeto.
“Uma música que vem de dentro pra fora e não o contrário”
Bobina MC, vocalista do Luz Apache
“Hoje a gente leva como um trabalho. Essa formação permite atuar em várias frentes. O jeito que a gente gira hoje é outro”, ressaltou João. Com esse pensamento, a formação investiu em um homestudio, que garantiu a independência e capacidade de produção mais eficaz. Além de não pagarem mais para gravar, o home permitiu uma liberdade maior para produzir uma “música que vem de dentro pra fora e não o contrário”, como disse Bobina.
A partir disso, nasce um trabalho musical que valoriza a liberdade e a união de estilos e gêneros distintos. Entendendo a palavra como o poder transformador, o Luz Apache busca transmitir uma mensagem positiva, busca transformar as vivências de quem entra em contato com o som.
“A gente tem um trabalho aqui a fazer. É pequeno. A gente não vai fazer a revolução. Mas a gente quer dar uma cutucada. É uma coisa boa”, disse Bobina, avaliando o que o grupo traz no próximo EP.
Foi um ano de trabalho para chegar o Luz na Levada. Sem realizar shows e se concentrando apenas no novo projeto, a certeza é que o trabalho vêm para carimbar a união de ritmos e estilos que o Luz Apache procura. Segundo Bobina, o EP “traz a assinatura do Luz Apache. É a cara do que a gente quer trazer”.
Depois de experiências, misturas e transformações, o Luz Apache traz um som com claras influências do reggae e do rap. Além disso, as músicas são compostas por elementos e batidas de outros estilos e gêneros musicais. Uma produção variada, com músicas muito diferentes umas das outras.
Para eles, isso também é uma consequência da independência conquistada a partir da estruturação do trabalho do grupo e da liberdade que todos tem para trazer referências e buscar sempre inovações estéticas e musicais.
Será o primeiro trabalho realizado com a formação atual, que tem planejado realizar projetos e parcerias para fortalecer o trabalho independente. A ideia é buscar espaços que não se limitem apenas a festas e noites do rap.
“A gente quer ter uma interface cultural, buscar outros espaços culturais, uma coisa que tem tudo a ver com o estilo de música que a gente tá fazendo. Mas onde chamar, a gente vai!”.
Confira o vídeoclipe da última música lançada pelo grupo
No final da entrevista, os músicos responderam a pergunta: “Como você vê a música na sua formação?”
“O que eu não podia realizar na vida material eu realizava na música. Minha mãe é compositora, meu pai pinta e escreve. Uma família que sempre valorizou a arte. Eu escrevia, minha mãe ficava feliz e eu decidi que era isso. Sempre que eu escrevo eu coloco meus defeitos memo. Música pra mim é um espelho”
“Eu sempre tive a influência do samba em casa. Quando tinha uns 12 comecei o violão e pensei que eu tinha que estudar isso. Fui para o conservatório, que abriu minha cabeça e comecei a enxergar a música de outro jeito. Hoje esse é o meu trabalho e eu me sinto bem fazendo isso”
“Eu não tinha família de músico, mas sabia que eu amava isso e fui aprender a tocar violão. Sempre na raça. Mas essas pessoas que estão aqui comigo sempre fizeram música e sempre estiveram nessa caminhada. Meu caminho no rap e na música surge aqui. Ele surge com essas pessoas. Eu só tenho que agradecer esses caras aqui. Agradecer demais”