Nas cidades em que o dinheiro governa e a dominação castra nossos sentidos, ainda afloram espaços de resistência. Locais, comportamentos, condições e pensamentos lutam contra a lógica do controle e do mercado. Existem. Às margens das políticas sociais e dos programas de televisão. Em choque com a Polícia, com a repressão.
A pista de skate reúne praticantes do esporte mais criminalizado da cidade, ainda que as butiques encham seus cofres e reduzam a luta aos cifrões. Nas quebradas, bairros e comunidades, omde o Estado só chega na figura do “coxa”, um encontro autônomo e horizontal faz suas próprias regras e acolhe almas. Nem os enquadros os enquadram.
Os quadros saem das molduras: sobem os muros, os prédios, as ruas. A cidade reprime e divide. O pixo resiste.Entre os muros altos e a segregação social, o pixador rompe com a propriedade privada e bate de frente com as imposições das cidades de concreto. Marcam com tinta
preta os prédios cinzas da elite do país.
Os infinitos tons de cinza causam esquizofrenia: o Brasil, recordista mundial no uso de agrotóxicos, envena nossas mesas e agride crianças com a palmatória química de suas drogas legalizadas, mas não tem a capacidade de liberar o uso medicinal da maconha. Não é guerra às drogas, é guerra contra pobres e desajustados.
No país da terceira maior população carcerária do planeta, a Casa Grande continua em pé. O sistema cria a figura do delinquente, estigma que recai sempre sobre os mesmos. Os encarcerados não vivem, sobrevivem no país das calças beges, onde o “partido” não tem programa eleitoral, tem o comando da capital.
Se antes apenas o número de presos homens crescia, a partir da década de 90, a prisão de mulheres passou a acompanhar o mesmo ritmo. Mulheres negras, reprimidas pelo patriarcado, pela escravidão e pelo racismo, sofrem nas mãos invisíveis do Estado branco
Homem branco, instituições mórbidas. Bárbara, mulher lutadora, que conta sua história em páginas desta revista, nos disse que vivia um casamento muito mais opressivo que seu trampo de prostituta, ou melhor, acompanhante – como faz questão de ser reconhecida.
A máscara cai. O casamento é o ringue da exploração e do sexo sem consentimento. Um estupro de sonhos liberdades. Com seus vícios e virtudes, resiste.
O papo é sem curva. Vaidapé.
Clique na imagem da capa para ver o PDF.