Por Alan Felipe
Foto em destaque: Xemalami
O xadrez é um esporte que remete a tranquilidade e o silêncio. O hip hop lembra agitação e música. Esses dois elementos, que parecem tão opostos, se complementam no Xemalami, coletivo do Grajaú, no extremo sul de São Paulo.
Drezz, Diggaz e Hyt, todos integrantes do grupo, colaram no programa de rádio da Vaidapé na segunda-feira, 9 de novembro, e explicaram como surgiu a ideia. “A sigla Xemalami (Xeque Mate laMissión) surgiu de uma equipe de xadrez que, depois de três anos jogando e unindo pessoas que eram muito próximas do movimento hip hop, começaram a levantar a bandeira pra ser, também, um grupo de rap” conta Diggaz.
Ouça o programa completo no player:
Drezz está no coletivo desde 2002, época que o grupo surgiu. Ele conta que um dos principais projetos, o evento Xadrez sem Muros, busca alinhar a música com questões sociais e políticas. “A gente reúne os elementos do hip hop nesse evento, articulando eles com o xadrez, tá ligado? Soa inusitado e estranho a princípio, tipo: ‘Pô, como o cara vai jogar xadrez com música, com aquela turbulência toda?’ A cultura hip hop funciona muito a milhão. A movimentação é forte, tem muita gente fazendo. Mas a gente sacou o que? Que, em meio a tudo isso, você precisa pensar, tomar decisões.”
Drezz explica que essa peculiaridade chamou a atenção de outros grupos. “Colava uns punk também, os caras do hardcore, era aberto. É uma ferramenta utilizada para melhoria da convivência também. Se colocarmos um tabuleiro aqui entre a gente, vão rolar várias coisas. A gente tá jogando, está se conhecendo, fortalecendo um vínculo. E, a partir disso, surgem ideias, como pensar a elaboração de um projeto de ação. Essa é a ideia, o jogo de xadrez relacionado à vida”, diz.
“A forma como você joga reflete um pouco no que você é. Se você é ambicioso, se você é contido, se consegue conciliar essas fitas todas… E é ai que você se conhece e aprende um pouco mais sobre si”, completa.
Drezz também explica o circuito competitivo que existe dentro do xadrez. “A gente já participou de vários campeonatos, é um ambiente bem elitizado. Os caras são egocêntricos e bem excêntricos. Eles tem um ego muito forte. Esse espírito de competição no xadrez virou um negócio.”
“Você é o comandante de um exército, você têm que prestar muita atenção e mexe muito com o ego. Quando você perde dá uma chateada”, afirma. Hyt acrescenta que o trabalho do Xemalami é fazer com que o xadrez não tenha foco somente na competição. “Então, tipo assim, as pessoas perdem. Mas valeu, continua, se esforça, estuda mais.”
Mas, se os lances iniciais do Xemalami foram feitos pelo xadrez, hoje o grupo usa muito o rap para a divulgação. Em 2005, quando o braço musical surgiu, eles lançaram um demo caseiro, “bem sujão mesmo”, feito na sala do GorFlow, outro grupo de rap da região. Depois, foram muitos trabalhos, como “o Peão não pode recuar” e “Zugzwang”. Além disso, foram lançados outras músicas solo e o projeto “São Vários”, que conta com a participação de diversos rappers do Grajaú.
Pra fechar o papo. O grupo falou sobre o novo álbum que está saindo do forno. Com 22 músicas inéditas, o disco está previsto para sair em 2016 e se chamará “Sudamérica, as peças pretas jogam”. No final do programa, o Xemalami mandou uma palinha ao vivo do single “E como pode?”. Por problemas técnicos não conseguimos gravar essa parte, mas você pode conferir o som no vídeo abaixo.
| O Vaidapé na Rua é transmitido ao vivo toda segunda-feira, às 20h, pela Rádio Cidadã FM. Na região do Butantã, o público pode acompanhar o programa sintonizando 87,5 FM, e no mundo inteiro através do site da rádio.
Música, debate e Vaidapé!